domingo, 3 de novembro de 2013

Indústria Farmacêutica, Saúde, e Busca Interior


Os buscadores envolvidos na busca interior tem uma preocupação a mais que o comum dos mortais, como dissemos nas postagens A Era Das Trevas da Medicina e Sugar Blues: é o fato de que a falta de energia e os danos causados por uma doença prejudicam a busca individual deles pela evolução "além do físico". Evoluir é um ato consciente já difícil com saúde... Isso significa que a busca da sua saúde é fundamental, e interessa só a você e a mais ninguém. Não espere muita ajuda nisso, não. Aliás, pelo que se vê por aí, as pessoas não estão muito interessadas nem pela própria saúde delas, quanto mais pela sua. Você está sozinho nessa empreitada. Acredite.

Um dos grandes problemas da saúde pública atual em todos os países do mundo nunca foi sequer apontado, quanto mais analisado e debatido: é o fato de em nossa civilização o produtor natural de remédios ser essa coisa chamada "empresa capitalista". Uma entidade orientada pelo conceito de lucro não pode desenvolver, fabricar e vender remédios. Ponto final
É fácil entender: o remédio eficiente (o que cura a causa, não o sintoma) reduz o lucro da empresa. É por isso que não se fala em prevenção,só em tratamento. Prevenção não dá ibope. Ela evita a doença e portanto o lucro. Se Cristo, ou Buda, Moisés, Maomé nascesse hoje e num passe de mágica começasse a curar, seria imediatamente morto ou desacreditado pela mídia paga pelos laboratórios. Ao acionista só interessa o aumento de vendas e diminuição dos custos, mesmo os custos que asseguram a vida do paciente, como é o caso do investimento nas pesquisas sobre os maus  efeitos dos remédios na saúde dos pacientes.
Eu me lembro quando era adolescente e um remédio chamado Talidomida,  que não foi convenientemente testado pelo fabricante, a empresa alemã Gruenenthal, começou a provocar defeitos congênitos nos recém nascidos. Um crime mundial com consequências desastrosas até hoje. Após 50 anos (!!!) a empresa pediu desculpas e ficou tudo numa boa. Não foi o primeiro nem será o último crime impune, considerando-se como o esquema está montado: interesses capitalistas apenas no lucro, deficiências e permissividade criminosas nos órgãos estatais de controle, normas ineficazes e pessoas suspeitas que deveriam controlar, tráfico de influências e corrupção dos agentes envolvidos no negócio, entidades de classe mancomunadas com o governo, a mídia faminta e conivente, etc e tal. 
Qualquer esforço para aumentar a segurança do paciente consumidor do medicamento vira um aumento de despesas da empresa farmacêutica. Não é preciso ser um diretor financeiro para saber que aumento de despesa significa diminuição de lucro, expressão proibida dentro de uma empresa, principalmente se ela for grande, em ambiente concorrencial, com ações na bolsa e acionistas vorazes e selvagens, como são todas, aliás, em qualquer lugar do mundo. 
A saúde das pessoas é uma coisa preciosa demais para ser deixada aos cuidados de uma indústria farmacêutica e da mídia que foi paga por ela. Por que? Porque ela só pensa no volume crescente dos lucros, na cotação das ações na bolsa e não na saúde e segurança das pessoas. Simples assim. Produção de medicamentos é um dos segmentos de maior lucro do mundo e que só vai aumentar, por razões óbvias, já que ninguém fala em prevenção.
O grande conferencista inglês Ben Goldacre denuncia em seu livro "Bad Pharma: How Drug Companies Mislead Doctors and Harm Patients" ("Má Indústria Farmacêutica: como as empresas de medicamentos enganam os médicos e prejudicam os pacientes") as condutas "irregulares" e, dando-se o nome certo, criminosas, portanto , da indústria farmacêutica ocultando resultados negativos que custam a cada ano muitas vidas.
Foi com base neste livro que foi criado este decálogo abaixo, com as piores práticas da indústria farmacêutica:

1. - 90% dos ensaios clínicos (*) publicados são patrocinados pela "big pharma". Este é o principal motivo pelo qual todo o sistema de ensaios clínicos está alterado, segundo Goldacre, e pelo qual acarretam o resto de problemas. 
(*)Em linguagem simples, um ensaio clínico é uma pesquisa para constatar se um produto, remédio ou vacina é eficaz, seguro e bom para a saúde, ou não. 

2. - Os resultados negativos são ocultados sistematicamente da sociedade.
- "Estamos vendo apenas os resultados positivos e perdendo os negativos", escreve Goldacre. - "Deveríamos começar um registro de todos os ensaios clínicos, pedir para as pessoas que registrem seu estudo antes de começar e fazer questão de que publiquem seus resultados no final". Em muitos casos, denuncia o autor, as farmacêuticas reservam-se o direito de interromper um ensaio e se veem que não vai dar o resultado esperado, simplesmente o detêm. Ademais, obrigam os cientistas que participam nestes estudos a manter em segredo os resultados. E esta prática, de vez em quando, pode ter consequências dramáticas.
Nos anos 90, por exemplo, foi realizado um ensaio com uma substância criada contra as arritmias cardíacas chamada Lorcainida. Selecionaram 100 pacientes e a metade deles tomou um placebo. Entre os que tomaram a substância, 9 morreram (em relação a 1 do outro grupo), mas os resultados nunca foram publicados porque a farmacêutica paralisou o processo. Uma década depois, outra companhia teve a mesma ideia, mas desta vez colocou a Lorcainida em circulação. Segundo Goldacre, até 100.000 pessoas podem ter morrido desnecessariamente antes de que alguém se desse conta dos efeitos. Os pesquisadores que tinham feito o primeiro ensaio pediram perdão à comunidade científica por não ter informado os resultados. Um assassinato em massa, premeditado e ninguém foi condenado, nem mesmo um puxão de orelha.

- "Só a metade dos ensaios são publicados", escreve Goldacre, - "E os que têm resultados negativos têm duas vezes mais possibilidades de se perder do que os positivos. Isto significa que os testes nos quais baseamos nossas decisões em Medicina estão sistematicamente manipulados para destacar só os benefícios que um tratamento proporciona".

3. - As farmacêuticas manipulam ou maquilam os resultados dos ensaios. Em muitas ocasiões os próprios ensaios são mal desenhados: usam uma amostra muito pequena, por exemplo, alteram os resultados ou comparam com produtos que não são benéficos para a saúde. Goldacre enumera um monte de pequenas armadilhas que realizadas de forma cotidiana para colocar um medicamento no mercado, como escolher os efeitos da substância em um subgrupo quando não se obtiveram os resultados esperados no grupo que buscavam no começo.

4. - Os resultados não são replicáveis, ou seja não são passíveis de serem repetidos.  O mais preocupante para Goldacre é que em muitas ocasiões, não é possível repetir o resultado dos estudos publicados. Então não são resultados, ora essa! São falsos e isso é crime.
- "Em 2012, um grupo de pesquisadores informou na revista Nature de sua tentativa de replicar 53 estudos para o tratamento prematuro do câncer: 47 dos 53 não puderam ser replicados". ( N.R.- São 90% de afirmações falsas!!! o que significa estatisticamente que nos EUA só 10% dos resultados garantidos pelos laboratórios são verdadeiros. E muitos remédios são vendidos aqui. No Brasil nós nem fazemos esse estudo de checagem. Nem a Anvisa nem ninguém)

5. - Os comitês de ética e os órgãos reguladores falharam. Segundo Goldacre, as autoridades tomaram medidas ante as constantes denúncias, mas a inoperância converteu estas medidas em falsas soluções. Os órgãos reguladores negam-se a dar informação à sociedade com a desculpa de que pessoas de fora da agência poderiam fazer um mal uso ou interpretar os dados de forma errônea. A inoperância leva a situações como a que ocorreu com o medicamento Rosiglitazone. Em 2011 a OMS e a empresa GSK tiveram notícia da possível relação deste medicamento e alguns problemas cardíacos, mas simplesmente não publicaram a informação. Em 2007 um cardiologista descobriu que incrementava o risco de problemas cardíacos em 43% e ainda assim ficou nas prateleiras até 2010. (N.R. - Você dúvida que corre dinheiro nessa maracutaia?)

6. - Laboratórios farmacêuticos prescrevem medicamentos a crianças que só têm autorização para adultos. Este foi o caso do antidepressivo Paroxetine. A companhia GSK, segundo Goldacre, soube de seus efeitos colaterais em menores e permitiu que seguissem receitando ao não incluir nenhuma advertência. A empresa soube do aumento do número de suicídios entre os menores que tomavam o médio e não alertou a comunidade médica até 2003.

7. - Realizam ensaios clínicos com os grupos mais desfavorecidos. Com frequência descobriram as farmacêuticas usando mendigos ou imigrantes ilegais para seus ensaios. Estamos criando uma sociedade, escreve, onde os medicamentos são ensaiados nos pobres. Nos EUA, por exemplo, os latinos se oferecem como voluntários até sete vezes mais só para obter cobertura médica e boa parte dos ensaios clínicos estão sendo deslocados a países como China ou Índia onde sai mais barato. Um ensaio nos EUA custa 30.000 dólares por paciente, explica Goldacre, e na Romênia sai por apenas 3.000.

8. - Produzem conflitos de interesses: Muitos dos representantes dos pacientes pertencem a organizações financiadas generosamente pela big pharma. Alguns dos diretores das agências reguladoras terminam trabalhando para as grandes farmacêuticas em uma relação bastante obscura.

9. - A indústria distorce as crenças dos médicos e substituem as provas por marketing. As farmacêuticas, denúncia Goldacre, gastam a cada ano milhares de milhões para mudar as decisões que os médicos tomam à hora de receitar um tratamento. De fato, as empresas gastam o dobro em marketing e publicidade do que em pesquisa e desenvolvimento, uma distorção que pagamos no preço dos medicamentos. As táticas vão desde a conhecida influência dos visitantes médicos (com convites a viagens, congressos e luxuosos hotéis) a técnicas mais enigmáticas como a publicação de ensaios clínicos cujo único objetivo é fazer com que o produto seja conhecido entre muitos médicos que participam no processo. Muitas das associações de pacientes que negociam nas instituições para pedir normas recebem generosas subvenções de determinadas empresas farmacêuticas.

10. - Os critérios para aprovar medicamentos são como um peneira furada. Os órgãos reguladores deveriam requerer que um medicamento seja melhor que o melhor tratamento disponível, mas o que acontece, segundo Goldacre, é que a maioria das vezes basta apenas que a empresa prove que "é melhor que nenhum tratamento em absoluto". Um estudo de 2007 demonstrou que só a metade dos medicamentos aprovados entre 1999 e 2005 foram comparados com outros medicamentos existentes. O mercado está inundado de medicamentos que não trazem nenhum benefício -a não ser para os donos das farmacêuticas-, segundo o autor de Bad Pharma, ou de versões do mesmo medicamento por outra companhia ou versões do mesmo laboratório quando prescreve a patente.

Fonte: http://www.badscience.net/about-dr-ben-goldacre/

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