domingo, 14 de abril de 2013

Seres Cíclicos

Poucas pessoas conhecem Armando Torres, um índio mexicano e escritor que foi aprendiz de Carlos Castaneda. Em seu livro Encontros Com o Nagual, editado por seu amigo Juan Yoliliztli, uma figurinha carimbada de quem fiquei amigo, ele fala de uma forma surpreendentemente nova de temas caros ao buscadores da verdade: vida após a morte, reencarnação, imortalidade, e por aí afora. Este texto fala de conceitos toltecas como A Águia ( O Mar escuro da Consciência), o ponto de aglutinação (ou ponto de encaixe da Consciência), o duplo de ensonhos (ou corpo energético), o caminho do guerreiro, e outros que estão  citados e explicados na obra de Castaneda. Sugerimos lê-la. Vamos lá:


"Pouco antes de conhecer Carlos, influenciado por minhas leituras orientais, eu havia sido partidário da doutrina da reencarnação. Parecia uma alternativa plausível à convicção Cristã na ressurreição dos corpos. Porém, em uma conferência, ele observou que os dogmas do cristianismo e das religiões do oriente eram suspeitosamente parecidas, porque partiram de um denominador comum: o medo da morte.
Seu comentário me lançou na perplexidade. Esse era um enfoque totalmente novo para um assunto que sempre me havia fascinado.
Quando perguntei sua opinião, Carlos tentou desviar meu interesse para outro tópico, como se não valesse a pena falar daquele assunto. Mas depois, mudando de tática, falou que todas as minhas crenças sobre a sobrevivência da personalidade eram o resultado das sugestões sociais.
"Foi dito a você que nós temos tempo, que há uma segunda oportunidade. Mentiras!
"Os videntes afirmam que o ser humano é como uma gota de água que se desprendeu do oceano da vida e começou a brilhar por conta própria. Esse brilho é o ponto de aglutinação da percepção. Mas, uma vez dissolvido o casulo luminoso, a consciência individual se desintegra e se faz cósmica, como poderia regressar? Para os bruxos, a vida é única. E você espera que se repita?
"Suas idéias partem da exagerada opinião que você tem sobre sua unidade. Mas, como todo o resto, você não é um bloco sólido, é fluido. Seu 'eu' é uma soma de crenças, uma lembrança, nada concreto!"
Perguntei a que se devia então que as religiões propagassem outros tipos de doutrinas.
Respondeu:
"Isso é fácil de entender; são respostas ao medo ancestral do ser humano. Cada cultura gerou suas próprias proposições explicativas, mas só os videntes foram mais além das crenças, corroborando esses aspectos das emanações da Águia por si mesmos"-
Ele me explicou que existem no universo feixes de energia aos quais todos estamos enganchados como se engancham as contas de um rosário entre si. Nós somos cíclicos; somos o resultado de um selo luminoso e toda vez que nasce um novo ser, encarna nele a natureza desse padrão. Mas a corrente que nos une não é de natureza pessoal, não implica a transferência de memória ou de personalidade, nem nada do estilo.
"Para sobreviver à morte é necessário ser bruxo. Ao satisfazer a Águia (O Mar Escuro da Consciência) com uma réplica vivencial, os bruxos conseguem manter acesa a chama de sua consciência individual por eternidades. Mas isso é um feito. Por um acaso a maior realização de um guerreiro deveria ser um presente?"
Comentei que recentes estudos tinham demonstrado que algumas pessoas, em circunstâncias muito especiais, podiam se lembrar de eventos de uma vida passada.
Afirmou que essa era uma interpretação errônea dos fatos.
"É certo que qualquer um pode sintonizar determinadas emanações de vivências que aconteceram em outros tempos e sentir que viveu não uma, mas muitas vidas. Mas isso é só um alinhamento entre milhões de possíveis alinhamentos".

 A alternativa do bruxo

Perguntei se a pessoa comum tem alguma possibilidade de sobreviver à morte.
 Respondeu que sempre havia uma possibilidade: o caminho do guerreiro.
"Se você quiser entender isso, não o veja em branco e preto. Veja-o em termos do movimento do ponto de aglutinação. O desafio do guerreiro é fixar sua atenção, lutando por manter a consciência de sua individualidade, inclusive depois de sua partida.
"Quando alcançarmos certo limiar de percepção, vemos que a morte física é um desafio. Assim como há duas formas de viver, há duas formas de morrer; em ambos os casos a pessoa pode agir como um guerreiro impecável ou como um idiota inconsciente. Essa diferença é tudo".
"Quer dizer que o que acontece depois da morte tem a ver com nossa preparação?"
Percebendo a intenção de minha pergunta, respondeu:
"Sim, mas não do modo como você quer interpretar isto. A idéia de que ser bom ou cumprir certos mandamentos facilitam as coisas é uma falácia à qual somos induzidos pela ordem social. A única preparação que vale a pena são os rigores do caminho do guerreiro, que nos ensina como economizar energia e sermos impecáveis.
"Considerando que há duas formas de viver e de morrer, há também dois tipos de pessoas: aqueles que pensam que são imortais e aqueles que já estão mortos. Os primeiros guardam esperanças, os últimos não. Um guerreiro é alguém que sabe que o tempo dele já terminou, mas continua lutando, porque essa é sua natureza. Se você olhar nos olhos dele, contemplará o vazio".
"Então, em que consiste realmente a alternativa do bruxo?".
"Há uma única forma na qual o homem pode se adiantar ao seu fim: através da manipulação de sua energia. Esse trabalho consiste de ensonho, espreita e recapitulação. As três técnicas se fundem em um mesmo resultado: o complemento do corpo energético.
"Em um sentido geral, a duração de nossa existência depende em grande medida de como tratamos nossa energia. Nós deixamos a vida por assim dizer 'grudada' nos assuntos diários, vamos nos desgastando nas coisas que vemos e tocamos, e por isso morremos. Mas se nós chamarmos de volta toda essa força vital através da Recapitulação, a morte já não poderá ser a mesma, porque teremos nossa totalidade.
"Do ponto de vista do vidente, um guerreiro que já recapitulou a vida dele não morre. Sua atenção está tão compacta que é uma linha contínua e coerente, não se dispersa. Sua recapitulação não termina nunca, continua para toda a eternidade, porque é o trabalho de desandar os passos, de andar em dia consigo mesmo e estar completo.
"Assim como necessitamos de certa quantidade de experiência para funcionarmos como indivíduos, o bruxo requer suficiente prática na segunda atenção para verdadeiramente ser um bruxo; caso contrário, não estará preparado para quando chegar sua hora e partirá ao infinito como um bruxo incompleto. Não obstante, um guerreiro que se esforçou durante toda sua vida para alcançar os parâmetros da impecabilidade tem uma segunda oportunidade. Pode agrupar os eventos de sua existência e recolher a energia que ficou espalhada para passar ao mundo do nagual".
 Perguntei o que fazia um bruxo naquele mundo.
Respondeu:
"Para a maioria das pessoas, morrer é entrar em um mundo de aspectos incomuns, igual a esses que nós testemunhamos durante os sonhos comuns. Lá, nada tem uma sucessão linear e os conceitos de tempo, espaço e gravidade não se aplicam. Imagine então tudo o que pode fazer um guerreiro que tem o controle de seu ”duplo de ensonhos” em uma viagem dessa natureza! Como você entenderá, isso é uma façanha da consciência.
"Um bruxo é alguém que passa sua vida se afinando através de árdua disciplina. Quando chega sua hora, enfrenta sua morte como uma nova etapa no caminho. Ao contrário do homem comum, ele não tenta encobrir o medo dele com falsas esperanças.
"O guerreiro parte para sua viagem definitiva cheio de deleite, e sua morte o cumprimenta e lhe permite conservar sua individualidade como troféu. Seu sentido de ser está afinado a tal grau que ele se transforma em energia pura e desaparece com um fogo interior. Desse modo, consegue estender sua individualidade por bilhões de anos".
"Bilhões de anos?"
"Assim é. Nós somos filhos da Terra, ela é nossa fonte última. A opção dos bruxos é unir-se à consciência da Terra por todo o tempo que ela viva""

Um comentário:

  1. olá Arnaldo, tudo bem? Excelente seu blog, parabéns. Está me ajudando a trilhar o caminho do guerreiro, dos buscadores. Nada tem de fácil, pelo contrário, é bem complexo e misterioso. Me diga, vc tem facebook?

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