terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Pássaro da Liberdade

Na tradição tolteca mexicana a palavra tolteca tem um significado diferente do conceito antropológico usual. Naquela, o tolteca é o Homem de Conhecimento, o buscador de si mesmo, o xamã, ou então o bruxo ou feiticeiro, como as pessoas comuns os chamavam ao não compreendê-los. Na história da humanidade, aliás, o bruxo ou feiticeiro é sempre aquele que eu não entendo e por isso o segrego. E se puder, o queimo na fogueira.
 Na verdade o feiticeiro era um buscador sofisticadíssimo e incansável do mistério do Ser, da imortalidade, da liberdade, um guerreiro impecável que chamava a sua busca interior de um Namoro com o Conhecimento... Evolução e poesia. Mercúrio e Vênus.
O que os feiticeiros toltecas sabiam sobre os conceitos complexos da Consciência, Percepção e Atenção, as ciências atuais da Psicologia e Parapsicologia estão hoje apenas começando a arranhar. Com todo o respeito.
Quem ouve Don Juan falando na obra de Castaneda não acredita. É muita areia para o nosso caminhãozinho. Como era possível? Eles não eram índios? Atrasados? Esse conceito está mudando...
O pássaro da liberdade ou da sabedoria, era um dos conteúdos concretos e importantes e ao mesmo tempo simbólicos e poéticos que adornavam essa cultura milenar.
Diziam que a feitiçaria, o xamanismo, essa busca, era um pássaro mágico e misterioso que interrompia seu vôo por um momento, de modo a dar esperança e propósito a poucos seres humanos que buscavam a si mesmos. E que os feiticeiros vivem sob a asa desse pássaro, e o alimentam com sua dedicação e impecabilidade. Seu vôo era sempre uma linha reta. Uma vez que não havia maneira de fazer uma volta quando passava, ele podia fazer apenas duas coisas: levar o feiticeiro consigo, ou deixá-lo para trás. A escolha era do feiticeiro. Sem muita conversa.
O discípulo teria que seguir o nagual, o mestre, incondicionalmente, pois é ele que atraia o pássaro da liberdade e o levava a lançar sua sombra sobre o caminho do guerreiro, que não podia ter dúvidas nem problemas em deixar tudo para trás. Ele já compreendera perfeitamente que não havia uma segunda oportunidade. O pássaro da liberdade ou os levava consigo ou deixava-os para trás. O pássaro da liberdade tinha muito pouca paciência com indecisão e, quando voava para longe, nunca regressava. Nunca.
O mundo dos feiticeiros é um mundo mítico, separado do cotidiano por uma barreira misteriosa feita de sonhos e compromissos, mas ao mesmo tempo muito pragmático, muita ação e pouco mental. Somente se o nagual for apoiado e sustentado por seus companheiros sonhadores é que pode guiá-los a outros mundos viáveis, de onde pode atrair o pássaro da liberdade. Ele precisava da energia dos sonhos lúcidos, não sentimentos e atos mundanos.
Eles diziam que o preço da liberdade interior é muito alto. A liberdade só pode ser obtida sonhando-se sem esperança, estando-se disposto a perder tudo, mesmo o sonho. Para alguns de nós, sonhar sem esperança, é o único meio de acompanhar o pássaro da liberdade...
Coisa de gente grande.

Um comentário:

  1. E sob suas asas, desposaremos a lentidão do crepúsculo no assalto à pedra da Eternidade!

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