terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eu e Deus

♫ Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós,
Tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz,
Tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós,
Dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios,
Tenho que esquecer a data, tenho que perder a conta,
Tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus.

 Dizem que não se encontra Deus com a razão. Só com a alma e o corpo nus. Sem apego. Sem fazer.  Sem pensar. Só contemplar...
Se você não acreditar em Deus, não importa o nome, pode ser a Força, o Mais Alto, o Espírito, o Conhecimento, o Que For. Ele nem liga...
Tem muitas formas de encontrá-Lo, mas em todas, como diz o Gil na música, nada, nada, do que eu pensava encontrar. O Budismo Zen conta a história da xícara de chá que, como a mente, tem que ficar vazia senão não entra nada, não desce a Graça como diriam os cristãos. O Cristianismo esotérico monástico, não esse da missa das 10, fala na Nuvem do Não Saber, uma jóia rara escondida atrás da linguagem devocional da época. Os toltecas, via Don Juan e Castaneda, falam do Não Fazer, uma cambalhota inesperada no nosso mental. As escrituras falam de renascer da água e do espírito. Ou de atravessar o deserto para poder receber o Maná. E vai por aí afora em todas as tradições. Não tem nenhuma que mande você estudar, ler livros, se concentrar, doutorado, MBA, essas coisas...
Como você vê, além do Gil, que é poeta e por isso toca o Invisível, o Espírito, todos os caminhos de busca do Ser falam disso. Então aí tem coisa. Pode crer.
Mas como eu faço isso? De fato, no meu dia a dia?
Como parece que você está com pressa, o Tao diz: não há necessidade de  pressa porque a eternidade está disponível para você. Plante no tempo certo e quando a primavera vier, e ela sempre vem, as flores aparecerão. Se você aceita esperar, a Iluminação pode acontecer instantaneamente Se pedir pode ser que nunca aconteça.
Posto isso, eu devo firmar um propósito de esvaziar o mental e fazer tudo, até dormir, junto com isso. Acordo, almoço e janto com isso. Até namoro com isso. Esvazio a xícara! A toda hora. Sistematicamente.
Depois desestruturo tudo o que é velho. Desestruturar, sim. Você está contente do jeito que é? Quebre as rotinas. É um grande barato. O corpo adora.
Nesse ponto a ciência neurobiológica redescobriu o que a tradição esotérica sempre soube e recomendou: experimente o novo, e obtenha a cumplicidade de todos os sentidos. Varie. Experimente coisas novas:
Coma comidas diferentes. Ou faça um jejum. Tome banho de olhos fechados. Aprenda um novo idioma. Use a outra mão para escovar os dentes, comer, pentear-se, escrever. Vá aos lugares costumeiros por um caminho diferente. Tente aprender símbolos em Braille. Ou fazer contas com um ábaco chinês. Procure conversar com pessoas completamente diferentes de seu meio. 
Uma das técnicas preferidas da tradição indígena mexicana era fazer algo sem buscar recompensa. Só por fazer. É um bom começo.
Os toltecas, homens de conhecimento do Antigo México, via Carlos Castaneda, ensinavam o jeito certo de andar, para entrar num outro estado de atenção: desfocando os olhos, e com a atenção abarcando 180 graus, sentindo o corpo e o mundo, os dedos das mãos trançados, e a mente imaginando e fixando um ponto em algum lugar num arco imaginário que sai da frente dos seus pés e cai na linha do horizonte...

 Demora um pouco, mas o santo baixa...

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